A escritora Benedita Azevedo ao longo de toda a sua produção autoral possui trabalhos nos gêneros romance, crônicas, é considerada uma exímia haicaísta, detentora de vários prêmios, mas sua criação poética não se concentra apenas nesta forma de fazer poesia, possui também uma intensa escrita de poemas em outros formatos que foram publicados em antologias, jornais, redes sociais e demais publicações avulsas ao longo de muitos anos, desde o período em que deixou sua terra natal Itapecuru Mirim e foi viver em São Luís, capital do Maranhão, depois de um período residindo em Santa Catarina, até a maturidade, culminando no auge de seus oitenta anos, radicada no Rio de Janeiro.
Neste livro Benedita Azevedo consegue reunir esses poemas e apresenta à leitora e ao leitor um vasto painel de sua obra poética realizada em várias décadas, em vários momentos de sua vida, em períodos vividos em Itapecuru Mirim - MA, em São Luís, quando decidiu ir em busca de novos horizontes e aprofundar seus estudos, Blumenau e Itajaí – SC e Praia do Anil, Magé – RJ, onde reside há muitos anos.
Seus poemas são fruto de imagens poéticas que afloram de espaços como as casas em que viveu e vive, o rio Itapecuru de sua terra natal onde nadava prazerosamente na sua infância, ou os quintais e jardins com o cheiro de suas flores. Tudo isso remonta ao filósofo Gaston Bachelard, na sua obra A Poética do Espaço, em que trata de espaços como a casa, o porão, o sótão, o quarto, ou locais onde guardamos coisas: armários, gavetas, cofres que despertam lembranças e sentimentos, os quais evocam imagens poéticas. As tratar sobre isso, destaca que:
As grandes imagem têm ao mesmo tempo maestria e uma pré-história. São sempre lembrança e lenda ao mesmo tempo. Nunca se vive a imagem em primeira infância. Qualquer grande imagem tem um fundo onírico insondável e é sobre esse mundo onírico que o passado pessoal põe cores particulares. Assim também, só quando já se passou pela vida é que se venera realmente uma imagem descobrindo suas raízes além da história fixada na memória.
Dessas imagens poéticas de Benedita Azevedo explodem temáticas, tais como: estudo, trabalho, amor, erotismo feminino, submissão, tempo, maternidade, maturidade, como no poema. Aponte, em que destaca dois esteios de sua vida, desafiando os limites impostos pela condição de mulher num mundo marcado pela misoginia.
“A minha ponte segura entre os dois lados da vida. Foram sempre, estudo e trabalho, que me fizeram voar sem asas"
Ou em Cheirinho de Café, poema em que as imagens do espaço da casa são aguçadas e remetem a concepção de identidade e pertencimento.
“Cheiro da lenha queimando misturado ao do café e da neblina do rio. Ai, meu Deus que triste é, ficar tão longe de tudo...Mas, mesmo assim eu saúdo minha Arca de Noé.”
Casa de Itapecuru, com pai, mãe e onze irmãos, no quintal a bicharada preenchendo muitos vãos. Pomar cheio de goiabas na porta velhas aldrabas, na despensa muitos grãos.
No poema Suavidade. eclode o erotismo sem as amarras da repressão. A autora mais uma vez dá vazão ao protagonismo da mulher num voo em busca de si mesma que começou na sua terra natal, numa época que o único papel reservado à mulher era o casamento. Além disso, firma sua voz lírica feminina.
“ Suaves gestos irmanados grassam, teus abraços me afagam com ternura, e não há discordâncias que os desfaçam...”
Leitoras e Leitores esta obra é mais um convite para o deleite com a poesia de Benedita Azevedo. Degustem sem moderação.
Inaldo Lisboa (Escritor e membro fundador da Academia Itapecuruense de Ciências Letras de Artes - (AICLA; também é professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA)
Novo livro da escritora maranhense de Itapecuru Mirim.
Poesias Reunidas (1964-2024)
Rio de Janeiro, 1ª edição/Agosto de 2024 - 307 páginas 60,00